quarta-feira, 12 de março de 2014

















No mistério do sem-fim
equilibra-se um planeta.

E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,

entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta.

Cecília Meireles



sexta-feira, 7 de março de 2014







A PERFEIÇÃO É O BOM, SE ISSO FOR O MELHOR POSSÍVEL

É o que fazemos, o que sai de nós, que nos cria, estrutura e destina. Não será nunca o que nos acontece que nos determina, porque nada do que nos chega de fora pode alterar a nossa essência, sem o nosso consentimento. Decidimos o que somos e somos o que decidimos, sempre. E isso é bom. Somos as nossas decisões. A resposta ao mundo que nos é dado.

Não somos omnipotentes, mas essa condição não nos impede de sermos bons e, dentro da bondade, cumpre-nos ser o melhor que nos for possível, dentro dos possíveis que aceitamos quando nos são dados...

Pode até uma circunstância adversa tornar mais fácil e apelativo ceder à tentação de desistir e deixarmo-nos contaminar por um mal exterior, mas é sempre e só a vontade própria que permite e protagoniza as nossas desgraças. Assim, como também são as nossas escolhas que nos afastam dos maus caminhos e nos fazem avançar pelo melhor.

Não há maior obra humana do que contribuir para a felicidade de uma outra pessoa. Mas, sendo que o mais profundo de cada homem depende apenas de si próprio, importa compreender que a nossa ajuda (sempre externa) não garante coisa alguma, apenas podemos inspirar, partilhar e amar...

Falta a muitos o humilde heroísmo de, amando, abrir o coração ao outro, com confiança e fé, deixá-lo agir em nós... sendo que todos os passos têm sempre de ser dados pelo próprio. Todos. Os melhores e os piores. Apenas eu sou responsável pelo que for feito em mim, afinal, só eu posso deixar esculpir a minha alma.

Aquele cujo coração cumpre o seu dever é feliz. Ser o melhor que se pode é ser bom, e ser bom é ser perfeito, quando se escolhe o melhor.

A perfeição não é impossível, é ser bom, tão bom quanto possível. Ninguém nos pode exigir mais do que aquilo que está ao nosso alcance. Nem Deus, tão pouco nós mesmos, menos ainda os outros... ninguém tem por dever algo acima das suas possibilidades. Fazer o bem é bom. Fazer o melhor possível é... perfeito.

Muitos acham que a perfeição é inalcançável. É-lhes mais fácil pensar que se trata de um patamar apenas ideal, julgam que um esforço para se aperfeiçoarem bastará... e que algumas das suas falhas são traços da sua essência, sem que haja aí possibilidade de perfeição... de onde, não valerá a pena (por mais leve que seja) insistir em aperfeiçoar o existente...
Mas sempre que uma essência não se cumpre, há mal. Nada. Vazio. O mal é esta incompletude: uma distância à perfeição possível... um deserto onde se escolhe degenerar em vez de gerar; abortar em vez de nascer.

Há em mim um sopro que me aquece e ilumina, que me pode fazer voar ultrapassando as montanhas deste mundo... é o que devo ser. O melhor que posso.

Ser perfeito é apenas isso, ser-se o melhor que se pode. Ser perfeito não é ser melhor que ninguém, mas tão-só o melhor possível. A bondade não é uma propriedade dos seres, é a generosidade simples de ser, é a perfeição.

Ser feliz é possível e depende só de mim, na medida em que sou capaz de amar. A estrela que me guia por estre as 




minhas trevas está em mim, assim como o céu que tantas vezes julgo ser de um outro mundo. 


José Luís Nunes Martins
jornal i
1 março 2014