quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008









Lágrima de Amor




Eu sou a onda que não tem sossego
Levo esta vida cheia de tormentos
Esmago-me de encontro aos rochedos
E grito assim os meus sofrimentos

Nas longas noites enluaradas
Embalada pelo cantar da sereia
Lembro bonitos contos de fadas
Sou a onda a espreguiçar-se na areia

Mas a gota que das ondas se esvai

Nas noites tristes a deixo rolar
É a lágrima de amor por minha mãe
Que se junta à imensidão do mar



De: Maria do Céu Oliveira


quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008


Mulher

O teu corpo é hera
Estás na Primavera
Do desabrochar
Enleia os teus braços
Como fossem laços
Vamos-nos amar

Rebenta o calor
A hera se ergue
Que nem um vulcão
Raízes partidas
E folhas caídas
Um manto no chão

Teu corpo torcido
Lançando um gemido
Meu Deus que fazer
Apenas queria
Que visses um dia
Que eu fora mulher


Autora: Maria do Céu Oliveira





Última Valsa

Ao som desta valsa
Eu fui levada
Da minha salinha
Para um salão
Fiquei encantada
A ouvir a música
Que não mais parava
Eu também dançava
Com um lindo par
Estavam lá também
Uns pares muito belos
Que tão bem valsavam
E nos seus cabelos
Tinham lindas flores
E suas cinturas
Eram abraçadas
Pelos seus amores
Não queriam parar
Era a última valsa
Que estava a tocar
Terminou a valsa
A música parou
E a minha salinha
Já não é salão
Eu estive a sonhar
Sentada e sozinha
No meu cadeirão

Autora: Maria do Céu Oliveira



Menino da Rua

Menino da rua
sem eira nem beira
que vida insegura
com frio sem lareira
Menino da rua
quanta solidão
sua casa é a rua
onde todos estão
Menino da rua
em noites de frio
dorme no cartão
Menino da rua
na montra parado
nos olhos os sonhos
estão do outro lado
Menino da rua
sapatos tamanhos
pois eram de alguém
que tinha mais anos
Menino da rua
mãozitas nos bolsos
caminhando em frente
sem forças nem alento
virando à direita
à esquerda também
Menino da rua
já tudo perdeu
não sabe de quem é
e não é de ninguém
Menino da rua
leva no olhar
pérolas de sonhos
que quer encontrar
Menino da rua
entra no jardim
senta-se num banco
para descansar
Menino da rua
olha para os pássaros
que vê voar
Menino da rua
deita-se no banco
onde adormece
seus sonhos voaram
como pombas brancas
para lá do céu
e enquanto sonhou
uma voz do Alto
pelo nome o chamou
E o Menino da rua
sorrindo saltou
voou com os pássaros
para além da lua
Menino da rua
para onde vais
vou ter com JESUS
para não sofrer mais
Menino da rua
Menino da rua
não te verei jamais


Autora: Maria do Céu Oliveira












Trazias ao peito grinaldas de lilases.
Dançaste à noite ao som da lua.
Nasceu a madrugada olhaste o espelho
Choraste ao ver que estavas nua...


Autora: Maria do Céu Oliveira


Jardim da Fantasia

Estava cansada
Sentei-me no banco do Jardim da Fantasia
Embalei minhas mãos
Como se de meninas se tratasse
Elas entreolharam-se e sorriram para mim
Ergueram-se e num gesto de ternura
Afagaram o meu rosto
Beijaram minha boca, pestanejaram
Aninharam-se no meu colo
E adormeceram abraçadas.


Autora: Maria do Céu Oliveira





Desencanto Profundo

Sou a porta aberta que não tem saída
Do mundo cruel que me castigou
Sou a filha sem norte e anda perdida
Não sei donde venho e não sei quem sou

Meus olhos são gaivotas esvoaçando
Tentando mergulhar no mar profundo
Minhas mãos tais sereias enfeitiçando
Pescadores que as seguem para o fim do mundo

Sou o pássaro que nunca mais voou
Sou a filha do vento que passou
À porta deste mundo de tristeza

Sou o fogo que ao arder lança calor
Para aquecer corações frios de amor
Sou uma rosa tenho espinhos e beleza

Autora: Maria do Céu Oliveira


sábado, 23 de fevereiro de 2008



Mãos de Mulher

Ainda ontem eram finas e reais
Hoje são disformes, e frias
Já tiveram gestos divinais
ó, tristes mãos, como estais vazias
A misérias que não tinham nome
limparam as lágrimas da dor
deram pão a quem tinha fome
rezaram a Deus com muito fervor
Amanhã, não valem nada
serão mãos de velha abandonada
dormitando num banco do jardim
Trémulas, escondidas junto ao peito
não têm beleza e estarão sem jeito
mantendo a pureza do marfim

Autora: Maria do Céu Oliveira