segunda-feira, 21 de maio de 2012

NA CARNE E NA ALMA

NA CARNE E NA ALMA


Sinto na carne o peso dos anos

Sinto na pele a frescura que se esvai

Sinto no olhar a beleza

que aos poucos vou perdendo

amarelecendo

como uma flor que chegou no fim de vida


Dizem que é na carne que se sente

e se cresce

e que na alma permanece

tudo intacto que se queira guardar


Vou tentar arranjar um lugar

que me guarde o olhar

que me serene o rosto

que me afugente as lágrimas


Vou esperar que a minha alma

se conserve jovem

sem qualquer margem

como um cavalo selvagem

que precisa de correr

e de um prado verde para o fazer


Vou esperar que ela jamais cresça

e se saiba ser

pura na essência

frágil na inocência

e doce..muito doce....

como só uma alma sabe ser


Que saiba ser por dentro

o que eu não fui por fora

Que me adoce o olhar

que agora se esvai

que me tome os sentidos sem demora


Que saiba se fazer ponte

mesmo distante

mesmo contraditória

ausente por um instante


Que saiba a minha alma

contar a minha história

e relatar com precisão

as minhas angústias

os meus medos

guardar os meus segredos

ser fiel confidente

eterna companheira


E quando a carne

já não suportar a dor infligida

e à morte pedir guarida

que ela seja em mim

como eu fui nela


Que me guarde por dentro

num cantinho bem singelo

Não precisa nem ser grande

mas que seja o bastante

para me acolher

e aí me deixar morrer


E enquanto na carne for sentindo

aquilo que a vida trouxer

que eu saiba ir digerindo

o que a alma não quiser


E que ela me guarde o sorriso

me conserve o pouco siso

e me deixe ainda brincar

ser criança

ter esperança

na relva e chuva patinhar

aproveitar o céu, o sol, o mar


E quando a minha hora chegar

eu deixar-me-ei levar

com a certeza

de que vi tanta beleza

que na alma vou guardar...


tudo o que a carne sentiu

o olhar viu

e a alma quis para si....


São Reis

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